Projeto garante inserção profissional, atendimento médico e social a comunidades do Rio

Ação, que levou serviços às comunidades do Complexo São Carlos, Fallet e Coroa, será realizada anualmente

O Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ), o Judiciário Trabalhista e a Amatra/RJ, em parceria com diversas instituições, promoveu uma ação social no Colégio Estadual Tomás Antônio Gonzaga, localizado no bairro do Catumbi, que levou serviços médicos, orientação jurídica e profissional, além de atividades educativas e recreativas a alunos, pais e professores. O projeto, intitulado Corrente do Bem, foi realizado no último sábado (28/11), no intuito de atender cerca de 1.000 pessoas das comunidades do Complexo São Carlos, Fallet e Coroa. A ideia, segundo o diretor da escola, Fabio Costa, é repetir a ação nos próximos anos.

Veja as fotos do projeto. 

“O objetivo era ofertar para essa comunidade a inclusão de serviços do dia a dia, que eles têm dificuldade de acessar pelo local onde moram. A função da escola não é só educar, queríamos oferecer melhor qualidade de vida”, afirmou o diretor emocionado pela concretização de um sonho. O projeto partiu de iniciativa da diretoria da escola que pediu apoio do MPT e de outras instituições, para colocar em prática a ação. A procuradora do trabalho Sueli Bessa, representante no Rio de Janeiro da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil do MPT, explicou que a ideia inicial era fazer uma feira de profissões, mas que percebeu a importância de garantir à comunidade diferentes serviços sociais.

Na ação, foram realizadas orientações sobre direitos trabalhistas aos moradores e sobre a aprendizagem, esta prevista na Constituição como uma oportunidade profissional para jovens a partir de 14 anos. De acordo com a legislação brasileira, todas as empresas de médio e grande porte - que tenham pelo menos sete empregados atuando em funções que demandem qualificação profissional - são obrigadas a contratar, como aprendizes, jovens entre 14 e 24 anos. “Queremos tirar esse adolescente do trabalho informal garantindo acesso a todos os direitos”, explicou Sueli Bessa.

Durante todo o dia, jovens que passaram pelo projeto puderam se inscrever em vagas de aprendizagem e estágio oferecidas pelas instituições parceiras, como Isbet , Fundação São Martinho, CIEE e Sistema "S". Foi o caso de Mônica Cardoso, 16 anos, que cursa o 1º ano e mora na comunidade do Fallet. “Vim buscar trabalho como estagiária ou jovem aprendiz, para ganhar mais conhecimento, já que onde moro não tenho muita oportunidade”, explica. Ela conta que, além de buscar crescimento profissional, a atividade vai gerar renda, para ajudar em casa. “Moro com minha avó, tia e irmã, e só minha avó - aposentada e com 80 anos – recebe”, explica. Mônica conta que pretende trabalhar na área de administração e acredita que a oportunidade como estagiária ou jovem aprendiz vai lhe trazer experiência na área.

De acordo com Mara Gonçalves, que integra uma das entidades, durante a ação foram ofertadas vagas em diferentes áreas, para preenchimento imediato, nos ramos de indústria, comércio, varejo e administração. No programa, além da profissionalização, os jovens contam com acompanhamento social de psicólogos, pedagogo e assistentes sociais. “Acompanhamos se o trabalho de aprendizagem está sendo feito, para não ter desvio de função, exploração ou hora extra”, afirma Thiago Pires, um dos responsáveis pela orientação social no Isbet.

Outra entidade parceira , que atua na área de profissionalização de jovens em situação de vulnerabilidade social e vítimas de exploração sexual, foi o SESI/FIRJAN. O Programa Vira Vida atende atualmente cerca de 100 jovens das comunidades da Cidade de Deus, Jacarezinho, Rocinha e Maré. “Nosso objetivo é oferecer a esses jovens oportunidade de qualificação para serem inseridos no mercado de trabalho”, explicou a pedagoga do programa Juliana Uchôa. O Vira Vida realiza o acolhimento desses jovens, atendimento social e psicológico, além de inserção profissional.

O projeto Corrente do Bem constitui iniciativa decorrente do Protocolo de intenções para a erradicação do trabalho infantil, firmado por diversos órgãos do Rio de Janeiro. “Juntos nós podemos fazer diferença. Todos nós podemos fazer algo em prol das pessoas e nesse sentido devemos focar na educação de qualidade para garantir o futuro de crianças e adolescente”, reforçou a representante da Amatra 1/TRT 1ª Região, Gloria Mello.

Atendimento jurídico - Além do circuito profissional, diversas instituições parceiras, como a Defensoria Pública e a Ordem dos Advogados do Brasil ofereceram consultoria jurídica à comunidade em temas ligados ao Direito de família, do consumidor, entre outros. Também foram dadas orientações sobre os riscos causados pelo trabalho precoce a crianças e adolescentes. “É fundamental que a comunidade seja conscientizada sobre a importância da permanência das crianças na escola e o quanto o seu desenvolvimento pode ser prejudicado pelo trabalho infantil precoce”, afirmou a defensora pública Eufrásia Souza. O Ministério Público Estadual, por sua vez, participou da ação, por meio da Ouvidoria.

O Ministério do Trabalho e Emprego ofereceu serviço de emissão de carteiras de trabalho. Foram emitidos cerca de 50 documentos. O DETRAN, por sua vez, emitiu documentos de identidade. Stela Sales Almeida, 30 anos, aproveitou a ação e correu para tirar os documentos de identidade e carteira de trabalho para as filhas. “Um projeto como esse traz benefícios para toda a comunidade, pois durante a semana não tenho tempo de ir a esses órgãos e aqui pude resolver tudo”, comemorou. A Secretaria de Trabalho e Renda e integrantes do CRAS também ofereceram atendimento à Comunidade, inclusive com distribuição de materiais às famílias.

Outras atividades – Durante o sábado, a população do Catumbi também pôde participar de oficinas de turbante, tranças, manicure e artesanato, promovidas pelo SESC. A Clínica da Família ofereceu exames de HIV e sífilis à população, bem como distribuiu kits relacionados à saúde bucal, havendo aplicação de flúor por profissional voluntário. Já a Cruz Vermelha, além de serviços de beleza e corte de cabelo, prestou atendimentos de verificação de glicose, aferição de pressão, reflexologia (massagem nos pés), pintura de rosto para crianças, contadores de história e um local para fotos com cenários e fantasias.

“É uma forma de tentar atenuar o sofrimento de pessoas que precisam tanto desses serviços e de atividades para que possam se sentir bem, com um dia de beleza e saúde”, afirmou Vanusa Felix, secretária geral da Cruz Vermelha de Resende. O SESC ainda colaborou com espetáculo circense e o SESI disponibilizou vários brinquedos às crianças (pula-pula, escorregador e outros). Professor da Escola, na área de Música, cuidou de realizar a abertura do evento com número musical.

O Sesi também levou diversos projetos para o colégio, como a Oficina Cozinha Brasil, que ensina como aproveitar a totalidade do alimento, mostrando receitas feitas com partes que geralmente são descartadas, como cascas de frutas e legumes. Orientações sobre o mercado de trabalho, como fazer um currículo ou se comportar em uma entrevista, também estavam a disposição dos alunos. Eles também puderam se inscrever em cursos gratuitos do Senai, de operador de computador, eletricista de obras e mecânico de motocicleta, que começarão em fevereiro. “Com ações como essa oferecemos maior qualidade de atendimento e oportunidade às pessoas das comunidades”, concluiu Larissa Aguiar, analista do programa Sesi Cidadania.

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Tags: aprendizagem, trabalho infantil, Corrente do Bem

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